Racistas dos quatro costados

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Não me surpreende que uma família de monarcas que lucraram com a escravidão tenham ódio de pessoas negras. Me surpreende que num país como a Inglaterra pessoas investidas de função pública ainda se comportem como seus ancestrais em navios negreiros.

A gente tem que começar a pensar no que aconteceu no Palácio de Buckingham pensando também no que acontece na nossa casa quase todo dia,

e parar de ser hipócrita pensando que isso só acontece na casa da rainha da Inglaterra e não na tua própria casa, onde a tua mãe Bernardete odeia saber que a filha dela, Simone, casou com o Wellignton, e agora eles tem filho, Samuel, nome da Bíblia, e o garoto não é branco como Bernardete queria que fosse – mesmo sabendo que Bernardete, nossa heroína eugenista de Irajá, é filha de paraíba, cheia de dívida no SPC, cartão estourado, mas racista. Porque ser paraíba e pobre tudo bem, mas preta? Nunca. O branco pobre só tem medo de uma coisa: acordar preto. O resto, até um toco de jacarandá no olho do cu ele aguenta.

Nem me assusta o fato da família da rainha da Inglaterra ter quem não quer que exista um negro com o sangue dito real, isso não me assusta mais, e se algum momento me assustou, hoje eu sei que essa é a realidade. Embora não esteja assustado, isso não deixa menos indignado e com vontade de tacar querosene naquela merda daquele palácio, eu fico indignado mas não surpreso.

Porque, vamos falar a verdade:

o que a família real pensa, muito provavelmente sua mãe pensou ao ver você chegar com um homem negro em casa, pro Natal.

Amigo, amiga. A hipocrisia é tão venenosa quanto o racismo declarado. Mas a CARA DA OPRAH, e o que assustou a Oprah foi outros quinhentos.

O que assustou barra deixou a Oprah pucta, é que isso está acontecendo dentro de um órgão de Estado por pessoas investidas de poder do Estado representantes do próprio Estado, ELES SÃO A INGLATERRA.

Ok.

TAMBÉM NÃO SE PODE ESPERAR MUITO DA INGLATERRA, CERTO? Sabemos disso. A Inglaterra foi a maior traficante de pessoas da História. Roubaram para caraleo, como piratas, ladrões, cafajestes, tudo que viram pela frente. Roubaram condimento, bicho, pedra, planta, osso, ouro, diamante, prata, latão, tudo, A PORRA TODA, uma vez eu fui num museu em Londres, e os cara tinham ROUBADO uma estátua de uns 15 metros de altura, e uma

FACHADA

OS CARAS ROUBARAM A FACHADA INTEIRA DE UM PRÉDIO ANTIGO DE ALGUM PAÍS NA CASA DO CARALHO.

O INGLÊS INVENTOU A CLEPTOMANIA. O amor romântico e o roubo em caminhão de mudança, é invenção dos ingleses.

Depois que eles inventaram o capitalismo, e depois inventaram a Bolsa de Valores, o Mercado de Capitais e os Títulos da Dívida Pública, eles passaram a roubar sentados num prédio, dentro de uma sala com arcondicionado.

Não tem roubo maior que o próprio capitalismo em si.

E a Inglaterra explorou recursos e corpos, espalhou terror, sangue, morte e escravidão no mundo todo para estabelecer o sistema onde ela, Inglaterra, seria vencedora. Na Índia, exploraram até serem expulsos. E voltaram, com os bancos. Na África, pilharam, incendiaram, arrancaram a árvore pela raiz. Deixaram a parte do estupro mais pro português mesmo, porque o negócio deles é grana, português é que, por fracassado até no crime, não fica rico, prefere destruir a vida e o corpo das pessoas. Quando falarmos da Inglaterra, lembre-se que é DESSE TIPO DE GENTE que estamos falando. NEM OS FRANCESES gostam deles. E olha que os franceses foram o diabo na Terra, e colonizam e exploram e matam até hoje, procure saber quem foi Tomas Sankara.

Pois NEM OS FRANCESES gostam dos britânicos, esses cobra cega, doença ruim de curar.

POIS É ESSE IMPÉRIO BRITÂNICO, com sangue em todos os antepassados, representados pelo príncipe Charles, aquele monte de véio do dente podre, esse império que teve a pachorra de falar da gravidez de Meghan Markle externando, na maior de boa, a PREOCUPAÇÃO QUE A CRIANÇA VIESSE NEGRA, ou sem traços europeus.

Você, olha aqui.

O casamento da menina, parou a Inglaterra, gente. Foi o evento do ano, aquela merda.

Mas o que você precisa saber, sempre, que os impérios e poderes ocidentais são supremacistas.

OS IMPÉRIOS E PODERES OCIDENTAIS

SÃO

SUPREMACISTAS.

Pessoas que fazem parte da Instituição Família Real se comportam como supremacistas, racistas, confederados caipiras do Sul dos Estados Unidos, ou como os sulistas brasileiros. Toscos, doentes, racistas.

E este é o problema, que exista, num mesmo país onde é proclamado o discurso de modernidade, tolerância e liberdade, representantes deste povo, representantes históricos, que promovam declaradamente o racismo, SEM MEDO DE PUNIÇÃO, porque nenhum tribunal julga esses caras. A hipocrisia é tão desgraçada quando o racismo declarado. Você é negro, mas não pode entrar na casa do homem branco. Pode ser amigo, até a varanda. A mesma piscina, não. A mesma escola, não, os mesmos direitos, não, a mesma humanidade, nunca. Será sempre um homem branco, ou uma mulher branca, estampada no dinheiro.

O que chocou Oprah não foi o racismo.

É existir ainda, OFICIALMENTE, essa Inglaterra.

Mas se pensar bem, existe. Existe esse Brasil, Esse Estados Unidos, esse Portugal.

Portugal celebra hoje a vitória de 3 atletas em campeonatos mundiais. Todos negros. Nos jornais: “Portugueses de bem”, dizia a manchete, com a foto dos atletas negros. Há pouco menos de um mês, Portugal queria deportar Mamadou Ba, intelectual negro português que criticou um militar da ditadura. Pra Portugal, negro de bem, é negro que traz ouro. Seja em barcos, seja olímpico.

Mas direitos? Direitos não podem ter. Oprah deve ter terminado a entrevista com uma vontade imensa de ligar pra rainha da Inglaterra e mandá-la tomar no cu real. Tudo mais que Meghan passou ali, de falta de privacidade, liberdade e direitos, é o retrato fiel do que é o poder no ocidente. O que é a Europa. Mentirosa, selvagem, porca, racista, inútil e exploradora. Na Europa, eles usam a expressão “quatro costados”, pra dizer que uma pessoa é européia por todos os seus ascendentes. A Europa é racista, dos quatro costados. Meghan teve muita coragem em ir embora. Perder tudo, significa ser livre de tudo. E isso não é definitivamente pra qualquer um. Correr com lágrimas nos olhos, não é definitivamente pra qualquer um.

Não precisamos dizer quem é, na verdade, a família real aqui. Quem é, de verdade, rainha. Eu enxergo muito bem. E continuo afirmando: a principal luta da minha vida é racial. Os motivos tão aí. Todos os dias.

Anderson França

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Escritor e ativista social, nascido em Madureira, Rio de Janeiro. Em 2016 lançou Rio em Shamas, indicado ao Jabuti de 2017, pela Editora Objetiva. Foi roteirista na Rede Globo e Multishow/A Fábrica, colunista da Folha de São Paulo e Metrópoles.

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