O XX da questão

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Chora, deputada. Isso é ser mulher.

É fato relevante que o pinto anda meio caído.

Pinto. Tico. Bilau. Cacete.

Não se pode dizer que seja injustiça. Depois de tantos séculos de poderio da estrovenga, o piu-piu como instrumento para dominar os povos – e as povas -, a piroca chegou a essa altura da história obrigada a se recolher à sua, no mais das vezes, insignificância.

A roda girou e hoje é preciso muito mais que uma rola para um homem despertar a admiração alheia. Aí excluídos os atuais 23% da população que se contentam até com um bananinha.

Obviamente que o, digamos, ocaso do membro, não se deu pela vontade dos homens. Nem vamos falar na queima dos sutiãs, que isso é quase tão antigo quanto as brontossauras. Mas é preciso reconhecer que foi a mulherada, com suor e muito sangue, que mudou um estado de coisas quase medieval. E que continua mudando, para sorte até mesmo dos homens que não consideram a motociata como o ápice de uma vida inútil.

É aí que se chega ao XX da questão.

Se não basta uma vara para alguém ser homem, também não basta uma perereca para alguém ser mulher.

Ou: para não ser uma mulher apenas no sentido morfológico.

Sempre penso nisso quando a deputada aquela aparece de papagaio de pirata do micto. Ela, mais um cara de óculos que ri de qualquer coisa que o chefe boçal fale – quem nunca conviveu com um puxa-saco desses no trabalho? -, mais o tristemente emblemático Hélio, take it easy, meu irmão de cor.

De Sorocaba a Chapecó, só dá a deputada. Tirando a máscara em sinal de subserviência, ela repetiu os métodos do Femen, o grupo de onde saiu. Só que, no Femen, a outrora sextremista protestava mostrando os peitos, o que não se compara, em obscenidade, a botar nariz e boca para fora no país dos quase 520 mil mortos.

A bicha é danada. Faz vídeo xingando o presidente da CPI. Xinga as inimiga tudo nas redes. Serve de guarda-costas para o líder, até microfone segura em busca de uma versão mais favorável dos acontecimentos. Aposto que ovula quando ouve os impropérios que o boca suja número 1 da nação solta com a naturalidade de um esgoto despejado em Copacabana.

O bom é que a experiência em lamber botas também é útil em casa, para engraxar as botas do maridão, como ela mesma disse que faz. Agora, se engraxa com a língua, aí não se pode afirmar.

Mulheres feito a deputada, no fim das contas, estão aí para continuar legitimando o domínio do pingolim. Quem é que vai dizer que não tem mulher no meu governo? Tem a deputada, tem a Damares. Não tem? O que mais vocês querem?

Não é assim que funciona. Não adianta só nascer com uma pepeca para se dizer mulher. É preciso saber honrar a própria buça.

Pobre da beyonceta da deputada.

É escritora e roteirista de Porto Alegre. Trabalha na TV Globo, é colunista do jornal Zero Hora e colaboradora da revista Parêntese. Chega à Coluna de Terça sabendo da responsabilidade que é estar entre tantas vozes importantes.

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