Bem-vindos à 2006.

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Voltamos à 2006.

Naquele tempo, a hegemonia das redes eram Orkut e Twitter.

Em 2006, não havia Facebook no Brasil, que só recebeu suporte em português em 2007, crescendo timidamente em 2008, apenas em núcleos universitários brancos, da ESPM, ou outras universidades privadas da classe média alta.

Ali, estar no Facebook era ser exclusivo. Era fugir do Orkut, a maior rede social do mundo, e já utilizada de forma popular, o que explica a expressão: “orkutizou”. Orkutizou é o mesmo que dizer: popularizou, deixou de ser exclusivo, bagulhou, tá Dolly, tá zuado, qualquer merda vale, tá Madureira.

Os que não queriam estar neste ambiente, iam pro Facebook, porque lá encontravam outros jovens, em sua maioria americanos, e podiam fugir do Brasil, ao menos no seu imaginário de vira latas.

Em todas as gerações, sempre houve brasileiros que lamberam as botas dos americanos.

O Facebook só ganha contornos de impacto no Brasil, com a chegada do 3G, dos celulares com 3G e com Lula possibilitando a compra a crédito, dos celulares nas Casas Bahia.

Porque passamos a acessar o Facebook de um celular, não mais de um PC, grande, pesado, em cima de uma mesa na sala de casa, quando precisávamos acessar de madrugada, se quiséssemos privacidade.

Agora, não. Poderíamos acessar no ônibus, na escola, na igreja, no banheiro.

12 anos depois, o Facebook Inc., mega empresa que controla Instagram, Whatsapp e o Facebook, já faz transações financeiras, vende, impulsiona negócios e, de grandes corporações a microempreendedores, todos dependem das redes para vender, sobreviver e trabalhar.

É importante dizer que ontem, domingo, de 3 de outubro, uma ex-gerente do Facebook denunciou o grupo, dizendo que o Facebook sabe o que é discurso de ódio, mas não retira, pois lucra com isso.

O impacto do colapso desta segunda feira, dia 4 é, dessa vez, brutal para pequenos empreendedores. Pessoas que vendem comida, roupa, fazem entregas, sentiram o peso. E perderam produtos, vendas, e dinheiro. No entanto, o Facebook não assume responsabilidades pelos prejuízos que causou. Não há um balcão de PROCON que possamos recorrer.

Isso nos faz pensar em quanto poder três aplicativos tem.

Às 8 da manhã, foi registrada uma reclamação ao Facebook, por um usuário.

Às 11 da manhã, horário de Brasília, eram 126 mil reclamações. Ali, o Facebook percebeu que um problema estava sem controle.

Todas as primeiras reclamações foram registradas na Califórnia.

Na Europa, a pane foi registrada às 17:39 horário de Paris, 16:39 Lisboa, 12:39 Brasília.

Ou seja, a pane não foi única, e equivalente. Ela se expande no sistema, por continentes, em horários específicos.

Mas os prejuízos se expandem.

Poucos minutos atrás, antes de fechar esse texto, informações chegaram pelo site Olhar Digital que dados de 1,5 bilhão de usuários foram vendidos na dark web.

O Facebook tem 2 bilhões.

Ou seja, 75% da rede tem dados pessoais de usuários vazados.

E não há um tribunal para recorrer. Nada.

Estamos diante de um aviso.

Uma hora, essa bomba explode.

Escritor e ativista social, nascido em Madureira, Rio de Janeiro. Em 2016 lançou Rio em Shamas, indicado ao Jabuti de 2017, pela Editora Objetiva. Foi roteirista na Rede Globo e Multishow/A Fábrica, colunista da Folha de São Paulo e Metrópoles.

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