A miséria brasileira se perpetua

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Eu sempre começo por onde a imprensa acaba: nome e sobrenome.

O nome do supermercado é Formosa, do Grupo Formosa, uma das 50 maiores redes varejistas do Brasil, de propriedade de José Oliveira, que fundou o grupo há 46 anos.

A rede @formosaoficial decidiu vender, a 3,90 o quilo, RESTOS DE PEIXE para as pessoas usarem no almoço, na janta, onde a “criatividade” permitir.

Em uma semana: O caminhão de ossos no bairro da Glória, no Rio, fez uma fila de quase 30 pessoas, em Florianópolis um mercado anunciava num cartaz: “osso é pra vender, não pra dar”, e agora, restos de peixe.

Se você não sabe que prato fazer com osso, espinha e vísceras de peixe, é porque muito provavelmente isso não dá certo na cozinha.

Resto. A gente tá falando de um negócio que é o resto. Não é casca de banana, que tem quem faz bolo com isso, não. É resto de peixe, miúdos, restos que não tem nem como se cozinhar, é disforme, é nojento, é sem maneira de cozinhar.

O pobre brasileiro, esse, que não tem auxílio emergencial, se mulher, não tem absorvente gratuito e passa pela pobreza menstrual, que está em insegurança alimentar, que não tem emprego, esse pobre agora está na fila do osso e compra o resto.

O genocídio não foi bastante para esse governo. Enquanto Guedes enriquece e come filé mignon, a pobreza marca uma geração de crianças brasileiras.

Daqui 20 anos, elas terão a lembrança do pai ou da mãe que cataram ossos pro almoço. A miséria brasileira se perpetua.

Escritor e ativista social, nascido em Madureira, Rio de Janeiro. Em 2016 lançou Rio em Shamas, indicado ao Jabuti de 2017, pela Editora Objetiva. Foi roteirista na Rede Globo e Multishow/A Fábrica, colunista da Folha de São Paulo e Metrópoles.

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